quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Série Grandes Geógrafos: Milton Santos


Geóg. Milton Santos
 Milton Santos nasceu no município baiano de Brotas de Macaúbas em 3 de maio de 1926. Ainda criança, migrou com sua família para outras cidades baianas, como Ubaitaba, Alcobaça e, posteriormente, Salvador. Em Alcobaça, com os pais e os avós maternos (todos professores primários), foi alfabetizado e aprendeu álgebra e a falar francês.
Aos 13 anos, Milton dava aulas de matemática no ginásio em que estudava, o Instituto Baiano de Ensino. Aos 15, passou a lecionar Geografia e, aos 18, prestou vestibular para Direito em Salvador. Enquanto estudante secundário e universitário marcou presença na militância política de esquerda. Formado em Direito, não deixou de se interessar pela Geografia, tanto que fez concurso para professor catedrático no Colégio Municipal de Ilhéus. Nesta cidade, além do magistério desenvolveu atividade jornalística, estreitando sua amizade com políticos de esquerda. Nesta época, escreveu o livro Zona do Cacau, posteriormente incluído na Coleção Brasiliana, já com influência da Escola Regional francesa.
Em 1958, concluiu seu doutorado na Universidade de Strasburgo, na fronteira da França com a Alemanha. Ao regressar ao Brasil, criou o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, mantendo intercâmbio com os mestres franceses. Após seu doutorado, teve presença marcante na vida acadêmica, em atividades jornalísticas e políticas de Salvador. Em 1961, o presidente Jânio Quadros o nomeia para a subchefia do Gabinete Civil, tendo viajado a Cuba com a comitiva presidencial - o que lhe valeu registro nos órgãos de segurança nacional após o golpe de 1964.



Embora pouco conhecido fora do meio acadêmico, Santos alcançou reconhecimento fora do país, tendo recebido, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud (conferido por universidades de 50 países).
  • Sua obra O espaço dividido, de 1979, é hoje considerado um clássico mundial, onde desenvolve uma teoria sobre o desenvolvimento urbano nos países subdesenvolvidos.
  • Suas idéias de globalização, esboçadas antes que este conceito ganhasse o mundo, advertia para a possibilidade de gerar o fim da cultura, da produção original do conhecimento - conceitos depois desenvolvidos por outros. Por uma Outra Globalização, livro escrito por Milton Santos dois anos antes de morrer, é referência hoje em cursos de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras. Traz uma abordagem crítica sobre o processo perverso de globalização atual na lógica do capital, apresentado como um pensamento único. Na visão dele, esse processo, da forma como está configurado, transforma o consumo em ideologia de vida, fazendo de cidadãos meros consumidores, massifica e padroniza a cultura e concentra a riqueza nas mãos de poucos.
A obra de Milton Santos é inovadora e grandiosa ao abordar o conceito de espaço. De território onde todos se encontram, o espaço, com as novas tecnologias, adquiriu novas características para se tornar um "conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações".
As velhas noções de centro e periferia já não se aplicam, pois o centro poderá estar situado a milhares de quilômetros de distância e a periferia poderá abranger o planeta inteiro. Daí a correlação entre espaço e globalização, que sempre foi perseguida pelos detentores do poder político e econômico, mas só se tornou possível com o progresso tecnológico. Para contrapor-se à realidade de um mundo movido por forças poderosas e cegas, impõe-se, para Santos, a força do lugar, que, por sua dimensão humana, anularia os efeitos perversos da globalização.
Estas idéias são expostas principalmente em sua obra A Natureza do Espaço (Edusp, 2002).
No conceito de espaço, Milton Santos revela a noção de paisagem, onde sua forma está em objetos naturais correlacionados com objetos fabricados pelo homem. Santos aponta que espaço e paisagem não são conceitos dicotômicos, onde os processos de mudança social, econômico e político da sociedade resultam na transformação do espaço, que concatenado a paisagem se adaptam para as novas necessidades do homem naquele dado período. Milton Santos revela o conceito de paisagem como algo não estanque no espaço, e sim que a cada período histórico altera, renova e adapta para atender os novos paradigmas do modo de produção social.
São idéias apontadas na obra "Pensando o espaço do homem" São Paulo: Hucitec, 1982.

Por seus méritos, universidades e instituições ligadas à Geografia passam a outorgar-lhe títulos acadêmicos e honrarias. Os mais importantes são:

Obras
  • SANTOS, Milton. A cidade nos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira S.A., 1965.
  • SANTOS, Milton. Geografía y economía urbanas en los países subdesarrollados. Barcelona: Oikos-Tau S.A. Ediciones, 1973.
  • SANTOS, Milton. Sociedade e espaco: a formacão social como teoria e como método. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo: AGB, 1977, p. 81- 99.
  • SANTOS, Milton. Por uma Geografia nova. São Paulo: Hucitec-Edusp, 1978.
  • SANTOS, Milton. O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo. SP: Hucitec, 1978.
  • SANTOS, Milton. Pobreza urbana. São Paulo/Recife: Hucitec/UFPE/CNPV, 1978.
  • SANTOS, Milton. Economia espacial: críticas e alternativas. SP: Hucitec, 1979.
  • SANTOS, Milton. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1979.
  • SANTOS, Milton. O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979 (Coleção Ciências Sociais).
  • SANTOS, Milton. A urbanização desigual. Petrópolis: Vozes, 1980.
  • SANTOS, Milton. Manual de Geografia urbana. São Paulo: Hucitec, 1981.
  • SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Hucitec, 1982.
  • SANTOS, Milton. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. SP: Hucitec, 1982.
  • SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.
  • SANTOS, Milton. O meio técnico-científico e a redefinição da urbanização brasileira. Projeto de pesquisa apresentado ao CNPq, 1986 (datilografado).
  • SANTOS, Milton. Aspectos geográficos do Período Técnico-Científico no estado de São Paulo. Projeto de pesquisa apresentado à Fapesp, maio 1986 (datilografado).
  • SANTOS, Milton. A região concentrada e os circuitos produtivos. Texto apresentado como parte do relatório de pesquisa do projeto O Centro Nacional: Crise Mundial e Redefinição da Região Polarizada, 1986 (datilografado).
  • SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.
  • SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Paulo: Hucitec, 1988.
  • SANTOS, Milton. O Período Técnico-Científico e os estudos geográficos: problemas da urbanização brasileira. Projeto de pesquisa apresentado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mar. 1989 (datilografado).
  • SANTOS, Milton. Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São Paulo. São Paulo: Nobel/Secretaria de Estado da Cultura, 1990.
  • SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.
  • SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade. SP: Hucitec /Educ, 1994.
  • SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo. São Paulo: Editora Hucitec, 1994.
  • SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A.(org.). A construção do espaço. São Paulo: Nobel, 1986.
  • SANTOS, Milton. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Editora Record, 2000.
Milton Almeida dos Santos (Brotas de Macaúbas, 3 de maio de 1926 – São Paulo, 24 de junho de 2001) foi um dos maiores geógrafos brasileiro. Milton destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da Geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi um dos grandes nomes da renovação da Geografia no Brasil ocorrida na década de 1970.
  • Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, Paris, 1994
  • Mérito Tecnológico, Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, 1997
  • Personalidade do Ano, Instituto dos Arquitetos do Brasil, 1997
  • Prêmio Jabuti de Literatura, 1997 - Prêmio pelo melhor livro das Ciências Humanas por A Natureza do Espaço - Técnica e Tempo, Razão e Emoção
  • Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, 1995
  • Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em 1997
  • Homem de Idéias 1998, homenagem do Jornal do Brasil a Milton Santos, em 1998
  • Contemplado em concurso nacional da Revista Isto É como um dos 20 "Cientistas do Século", conforme encarte Especial nº 7, de 4 de agosto de 1999
Milton Santos tem o título de Doutor Honoris Causa pelas seguintes instituições:
  • Universidade de Toulouse, França, 1980
  • Universidade Federal da Bahia, 1986
  • Universidade de Buenos Aires, 1992
  • Universidade Complutense de Madri, 1994
  • Universidade do Sudoeste da Bahia, 1995
  • Universidade Federal de Sergipe, 1995
  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1996
  • Universidade Estadual do Ceará, 1996
  • Universidade de Passo Fundo/RS, 1996
  • Universidade de Barcelona, 1996
  • Universidade Federal de Santa Catarina, 1996
  • Universidade Estadual Paulista, 1997
  • Universidade Nacional de Cuyo, Argentina, 1997
  • Universidade do Estado do Rio de Janeiro,1998
Além da vida acadêmica, Milton Santos desempenhou outras atividades, entre as quais:
  • Presidente ou membro de distinguidas entidades profissionais, como:
    • Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)
    • Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur)
    • Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege)
  • Consultor de organismos como:
    • Organização Internacional do Trabalho (OIT)
    • Organização dos Estados Americanos (OEA)
    • Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco)
    • Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
    • Secretaria da Educação Superior (SESu/MEC)
    • Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp/SP)

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